terça-feira, 22 de maio de 2007

RETRATOS & TRANSFIGURAÇÕES

[A literatura mostra-nos] «As fadas, mulheres divinas, boas ou más, como símbolo do poder e as mulheres terrenas, premiadas ou castigadas, como símbolo da submissão ao poder masculino.» (MENDES, Mariza B. T., 2000: Em Busca dos contos perdidos: O significado das funções femininas nos contos de Perrault. São Paulo: Unesp, pp. 105-106).

«Rostos & Transfigurações» é uma selecção de 16 retratos recolhidos entre 2005 e 2007 em diversas aldeias do Barroso, Peneda-Gerês, Nordeste Transmontano e Alentejo. As fotografias revelam um modo de vida que tende a desaparecer, expresso principalmente na dureza dos rostos femininos carregados pela dor e pelo luto; rostos de mulheres que se habituaram a sobreviver a todos os abandonos…

Esta exposição de Antero de Alda estará patente no Bar do Lago durante a primeira quinzena do mês de Junho. A inaguração terá lugar no dia 1 de Junho, Sexta-Feira, pelas 21h30.


Antero de Alda nasceu em 1961. É formado em artes plásticas (pintura) pela Faculdade de Belas Artes de Universidade do Porto e mestre em Tecnologias Educativas pela Universidade do Minho. É um dos mais importantes autores portugueses de poesia visual, em javascript e em flash.
Representado no Centro de Estudos sobre Texto Informático e Ciberliteratura (CETIC) da Universidade Fernando Pessoa, no Porto, tem trabalhos publicados em Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha, Holanda, Polónia, Argentina, México e Brasil.
Dedica-se à fotografia desde 2005 e esta é a sua primeira exposição individual.

Para mais informações: anterodealda.com

3 comentários:

Anónimo disse...

Gostaria de falar um pouco desta exposição, mas não o faço sem antes destacar o enorme trabalho de dinamização cultural que está a ser feito em Penafiel através do Bar do Lago: teatro, cinema, música, poesia, pintura, fotografia… alternativos no espaço e nas formas! Parabéns, Sónia e Adriana — e restante equipa —, pelo trabalho que desenvolvem no Bar do Lago e no Teatro Carmo Artes, pela vossa enorme simpatia e também por este primeiro aniversário, que deve ser bem comemorado, no dia 9 de Junho ;) Vocês merecem todo o carinho desta vossa cidade!

Quanto às fotografias, não espero um entendimento imediato deste caminhar sobre o espaço serrano português, centrado principalmente na figura das mulheres que o habitam, carregadas de culpas e abandonos… Porque o «transporte» dos últimos lenços negros da nossa interioridade para o meio urbano carece de alguma contextualização.
Trata-se de imagens recolhidas na Feira de Natal do Santuário de Nossa Senhora do Naso, na Póvoa, a poucos quilómetros de Miranda do Douro, onde se reúne gente vinda das aldeias raianas de Palaçoulo, Genísio, Malhadas, Infanes, Moveros… Da «Festa dos Rapazes» de Constantim: um ritual sagrado e profano típico do solstício de Inverno, onde estão presentes os pauliteiros e onde, como diz o povo, «fázen uas macadas que a la giente dá-le ua risa mui grande». Da Feira dos Burros do planalto transmontano, os famosos Gorazes de Sendim, onde se reúnem ainda os velhos e as velhas que descem das suas aldeias e por aqui se instalam para venderem/trocarem as novidades de final de Verão («Essa tue tan grande feira/De trinta de Outubre yê tal/Que nun beio nestas tiêrras/Outra que le seia eigual»).
Depois, há os testemunhos das personagens isoladas das aldeias fronteiriças do Parque da Peneda-Gerês e do Barroso: Pitões das Júnias, Mourilhe, Vilar de Perdizes, Castro Laboreiro, Rouças da Gavieira, Vilarinho…
E por fim uma figura do Alentejo, bem do centro da cidade de Portalegre: Jacinta Rosa Carrilho (que ilustra o folheto da exposição). Aos 92 anos, vive no contexto em que sobrevive — conforme tentei explicar — esta pequena exposição: «O meio urbano, ao gerar diferentes dinâmicas de relacionamento entre os indivíduos, tende a marginalizar os mais fracos, incapazes de manter o seu ritmo e a apagá-los, retirando-lhes qualquer visibilidade social. Envelhecer na cidade é arriscar-se a acabar os seus dias cada vez mais só…» Paula Marques (com Cláudia Barbosa), 'A Solidão na Terceira Idade’.
No fundo, é de solidões que fala esta exposição (mesmo que se trate de grupos, como nos rituais das festas e das feiras), de pessoas que envelhecem, nas aldeias ou nas cidades, com o estigma do abandono… E envelhecem assim porque não encontraram (ou não encontram já), a relação certa… Pois, como diz D.S. Weiss, «a solidão não é apenas um desejo de relação, mas da relação certa…»
Assim se compreende que esta não seja uma exposição fácil, como disse. É incontornável o conflito de gerações. Mas é uma exposição recomendável em qualquer caso, porque dentro de poucos anos já não será possível fazer retratos (e transfigurações) como estes, destas gentes e destas realidades em acelerada decadência…

Photostories:
www.anterodealda.com/fotografia_festa_dos_rapazes.htm

Paulo F disse...

Vou estar aí!

Paulo F disse...

Foi bonita a festa, pá! ;)

paulo fogg